domingo, 9 de junho de 2013

DiCaprio alavanca “O Grande Gatsby”

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Uma adaptação cinematográfica de “O Grande Gatsby” por Baz Luhrmann é, convenhamos, um alvo fácil para críticas. O grande romance americano do século 20, com a prosa refinada de F. Scott Fitzgerald, transformado em filme por um cineasta assumidamente kitsch e em curva descendente na carreira?
Vamos combinar: é um prato cheio para um pensamento do tipo “socorro! os filisteus estão se apropriando da alta cultura!”. Mas há algo de muito apropriado na escolha de Luhrmann para comandar a terceira adaptação do livro para o cinema.
Grosso modo, o livro conta a história de Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio), milionário misterioso que promove festas extravagantes em sua mansão na esperança de atrair sua antiga amada Daisy (Carey Mulligan), agora casada com Tom Buchanan (Joel Edgerton), de família rica e tradicional.
No livro e no filme, a história é narrada pelo ponto de vista de Nick Carraway (Tobey Maguire), primo de Daisy, vizinho de Gatsby e alter ego de Fitzgerald.
A atitude do cineasta em relação ao espectador é a mesma de Gatsby diante de Daisy: impressioná-lo pelo excesso; seduzi-lo com falsos brilharecos, incluindo um dispensável 3D.
Luhrmann é, como Gatsby irá se revelar ao longo do livro, um novo-rico, um emergente do cinema. É também, como o protagonista, um homem que não sabe quando parar --como se vê nas inúmeras sequências em que estabelece um paralelo entre o jazz do início do século 20 e o hip-hop do começo do 21.
Nesse sentido, sua escolha como diretor não poderia ser mais adequada. Luhrmann é capaz de retratar perfeitamente a superfície de Gatsby. Por outro lado, ele não consegue penetrar no lado mais obscuro do personagem: sua vaidade, sua obsessão maníaca pela propriedade (incluindo aí a de Daisy e de Nick).
No livro “Sunset Park”, de Paul Auster, há uma chave para entender o limite dessa adaptação: “(Nick) é o único personagem capaz de olhar para fora de si mesmo. Todos os outros são pessoas perdidas e rasas, e sem a paixão e a compreensão de Nick, não seríamos capazes de sentir nada por eles”.
Talvez falte a Luhrmann o olhar de Nick -e, portanto, o de Fitzgerald- sobre o lado negro do sonho americano. O cineasta não parece capaz de criticar essa fantasia materialista --ao contrário, embarca nela com gosto, sem perceber que ela se evaporou com o tempo.
Trilha
Em vários momentos, a nova versão de “O Grande Gatsby” parece comercial dos patrocinadores Moët & Chandon e Tiffany. Ainda assim, a Warner preocupava-se com os US$ 125 milhões (R$ 266 milhões) investidos na adaptação do clássico de F. Scott Fitzgerald.
Não ajudava ter no comando do longa Baz Luhrmann -cujos filmes nunca arrecadaram mais de US$ 100 milhões (R$ 213 milhões) nas bilheterias dos EUA-, que vinha do fracasso “Austrália” (2008).
O alívio foi sentido por toda Hollywood quando o filme fez US$ 50 milhões (R$ 106 milhões) no fim de semana de estreia, no mês passado, e US$ 130 milhões (R$ 277 milhões) em menos de um mês.
“Os números foram muito melhores do que todos imaginávamos”, revelou um aliviado Luhrmann, um dia antes de o filme ser recebido com frieza no festival de Cannes.
Para adaptar-se à nova geração, o filme foi rodado inteiramente em 3D. “Usei o 3D como Alfred Hitchcock fez nos anos 1950, intensificando o drama dos personagens ou criando poesia visual.”
O jazz deu lugar ao rap e, em algumas horas, a Lana Del Rey e Florence Welch--, com a produção do músico Jay-Z. “Ele foi o primeiro a ver o filme. Virou um tipo de curador musical do longa”, diz o diretor. “A música é um personagem de ‘O Grande Gatsby’. Fitzgerald foi criticado ao citar música afro-americana em seus livros e eu também fui.”

"O diário de Mogi"

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