The Beatles (Divulgação) |
Naquele dia,
o quarteto de Liverpool subiu no terraço do número 3 da Savile Row em Londres,
sede da Apple Corps, e, durante 42 minutos, tocou – e gravou para o
documentário "Let it be" – várias canções, entre elas "I've got
a feeling" e uma breve versão do hino britânico. "Foi estupendo
porque era ao ar livre, algo pouco habitual para nós", declarou Paul
McCartney no livro "Antologia", não sem lamentar que alguém
desligasse o equipamento de som quando a polícia chegou para pedir a suspensão
do show improvisado.
"Algum
morador ligou para a polícia e quando subiram eu estava tocando – conta Ringo
no mesmo livro – e pensei: 'Tomara que me prendam!' Estão filmando e teria
ficado genial se os policiais tivessem carregado a bateria. Mas, naturalmente,
não fizeram nada disso". Sem dúvida, contaríamos outra história se os
Beatles tivessem sido detidos. Mas não é fácil prender pessoas com dinheiro e
menos ainda se têm talento, como é o caso.
Outros que
tentaram fazer o mesmo, quase 20 anos mais tarde, foram os irlandeses U2 com o
videoclipe do terceiro single de seu álbum "The Joshua tree", a
canção "Where the streets have no name". Bono e seus amigos
aprenderam a lição do "terraço beatle". Para começar não convidaram
Yoko Ono, buscaram uma temperatura primaveril – dia ensolarado em Los Angeles –
e anunciaram a apresentação em grandes emissoras de televisão.
Mais de mil
pessoas atenderam à convocação no exterior do telhado do edifício Republic
Liquor Store. Como confessou o manager da banda em 2007, Paul McGuinnes, se
tratava de exagerar o enfrentamento com a polícia à espera do cancelamento do
show, algo que acabou não acontecendo. Bombeiros, o helicóptero de controle de
trânsito, policiais e todo tipo de agentes da ordem foram pessoalmente ao local
para sair no vídeo e, de quebra, gastar fundos do contribuinte.
Enquanto
isso, Bono sacudia ao vento seu cabelo comprido e o guitarrista The Edge tocava
a guitarra com um chapéu de gosto duvidoso. Apesar disso, a canção continua
sendo excelente e a banda ganhou com este clipe em 1989 o prêmio Grammy de
melhor interpretação em um vídeo musical.
A praga de
subir em um terraço para aborrecer os vizinhos não perdeu força após esta
experiência. Na verdade, quase se transformou em um gênero em si mesmo. Dentro
do estilo clássico – imitação beatle – podemos qualificar a apresentação do Red
Hot Chili Peppers em julho de 2011, em um terraço de um edifício da populosa
Venice Beach de Los Angeles. Ali interpretaram o primeiro single de seu último
disco, "The adventures of rain dance Maggie", rodeados de centenas de
pessoas aos seus pés com telefones celulares gravando cada segundo.
Depois estão
os shows patrocinados por canais de televisão e videoblogs. Tanto o U2, no
edifício da BBC de Londres em 2009, como o Foo Figthers, na cobertura da sede
do Radio City Hall de Nova York em 1997 para a MTV, usaram terraços e
exteriores de edifícios para promover seus trabalhos musicais e ganhar pontos
de audiência.
Talvez esta
paixão pelas alturas seja uma mensagem de consolo para tempos difíceis. Já em
1962, o grupo vocal de soul The Drifters alcançou fama e popularidade com
"Up on the roof". A canção, composta por Carole King e seu primeiro
marido, Jerry Goffin, nos fala do horizonte, das estrelas e do ar fresco e
doce. Uma chamada ao otimismo frente ao barulho e à realidade das ruas.
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